Como Lula e Modi Pretendem Reconfigurar o Comércio Internacional em Meio às Tarifas de Trump
Introdução
A parceria comercial Brasil Índia ganhou novos contornos após o telefonema entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi. No exato momento em que os Estados Unidos endurecem tarifas sobre aço, alumínio e produtos agrícolas, duas das maiores economias emergentes decidem aprofundar seus laços, oferecendo um contrapeso às tensões comerciais globais. Este artigo, baseado na reportagem em vídeo do canal O TEMPO, explora por que o diálogo Lula-Modi pode virar um divisor de águas para exportadores, investidores e formuladores de políticas públicas. Ao longo de aproximadamente 2.200 palavras, você entenderá o contexto das tarifas norte-americanas, os gargalos logísticos, as oportunidades de agronegócio, energia e tecnologia, além de respostas práticas para empresas brasileiras que desejam entrar no mercado indiano.
• EUA aumentam tarifas: Brasil e Índia entre os mais afetados.
• Lula e Modi discutem reação conjunta e acordos bilaterais.
• Setores-chave: agronegócio, energia renovável e TI.
• Desafios: infraestrutura, barreiras sanitárias e tributação.
• Perspectiva: comércio Sul-Sul tende a crescer 30% até 2030.
1. O Choque das Tarifas de Trump e o Novo Tabuleiro Econômico
EUA e a escalada tarifária
Desde 2018, a gestão Donald Trump impôs sucessivas tarifas sobre importações de aço (25%) e alumínio (10%). Em 2023, a Casa Branca ampliou a lista para incluir etanol, soja e equipamentos automotivos. O objetivo oficial era proteger a indústria norte-americana, mas o efeito colateral foi imediato: países exportadores como Brasil e Índia perderam competitividade nos Estados Unidos, seu maior mercado até então.
Impacto em commodities e mercados emergentes
No Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima queda de 1,8 bilhão de dólares em vendas externas de aço e alumínio. Na Índia, a Federação das Câmaras de Comércio e Indústria (FICCI) calcula prejuízo de 1,3 bilhão de dólares no mesmo período. Desse modo, ambos os governos passaram a buscar rotas alternativas para escoar produção e reduzir dependência do mercado norte-americano.
Reação coordenada
Frente a esse cenário, Lula e Modi enxergam nas relações Sul-Sul uma válvula de escape. A sinergia entre as cadeias produtivas dos dois países — Brasil forte em agronegócio e minerais, Índia em tecnologia da informação e farmacêutica — facilita trocas complementares, evitando concorrência direta. Além disso, a discussão pode inspirar outros membros do BRICS (China, Rússia e África do Sul) a fortalecer arranjos de comércio intrabloco.
• Brasil exportou 4,1 Mt de aço aos EUA em 2022; Índia, 2,7 Mt.
• Tarifa de 25% gera custo extra de US$ 128/t ao produtor brasileiro.
• 73% dos CEOs latino-americanos buscam diversificar destinos de exportação (PwC, 2023).
2. Histórico e Perspectivas da Parceria Brasil–Índia
Evolução das relações bilaterais
Os laços entre Brasília e Nova Délhi remontam a 1948, mas se intensificaram a partir de 2003, quando Lula visitou a Índia e assinou o Acordo de Preferência Tarifária do Mercosul. Desde então, o comércio bilateral saltou de US$ 2 bilhões para US$ 15 bilhões em 2022, segundo o Ministério das Relações Exteriores.
Setores estratégicos
A parceria comercial Brasil Índia concentra-se em alguns pilares: 1) agronegócio, com soja, milho e carne; 2) energia, sobretudo etanol e biodiesel; 3) tecnologia da informação, com destaque para softwares bancários indianos; 4) farmacêuticos genéricos. Recentemente, empresas como TCS, Infosys e Wipro abriram centros de inovação no país, enquanto BRF, Raízen e Suzano estudam joint ventures em território indiano.
Tabela comparativa de commodities e serviços
Segmento | Exportações do Brasil p/ Índia (US$ bi) | Exportações da Índia p/ Brasil (US$ bi) |
---|---|---|
Soja e farelo | 3,2 | 0,1 |
Óleo bruto & derivados | 2,8 | 0,0 |
Minerais de ferro | 1,5 | 0,0 |
Farmacêuticos | 0,2 | 1,4 |
TI & serviços digitais | 0,3 | 1,9 |
Automotivo | 0,6 | 0,7 |
Açúcar & etanol | 1,1 | 0,0 |
“Brasil e Índia têm cadeias de valor complementares; cada dólar investido em integração logística pode gerar até cinco dólares em comércio bilateral.” — Dr. Shyam Sarma, professor de economia internacional na Jawaharlal Nehru University
O acordo de livre comércio Mercosul-Índia, previsto para 2024, pode reduzir em até 70% as tarifas de 450 itens, incluindo tratores, defensivos agrícolas e módulos fotovoltaicos.
3. O Telefonema Lula–Modi: Detalhes e Implicações
Pauta central
Segundo o Itamaraty, o telefonema do dia 7/8 girou em torno de três eixos: (a) resposta coordenada às tarifas dos EUA; (b) ampliação do Programa de Parceria Estratégica Brasil-Índia (PEBI); e (c) preparação para a Cúpula do G20, em que Modi hospedará Lula em Nova Délhi.
Mensagens políticas
Lula ressaltou que “o futuro da geopolítica comercial está no Sul Global”, enquanto Modi manifestou interesse em adquirir etanol brasileiro para reduzir emissões de carbono. Ambos concordaram em acelerar um acordo de reconhecimento mútuo de certificados fitossanitários, passo vital para desburocratizar a entrada de carnes brasileiras na Índia.
Próximos passos diplomáticos
Ficou agendada uma missão empresarial mista em novembro, liderada pela ApexBrasil e pela Invest India. A meta oficial é anunciar, até lá, pelo menos dez memorandos de entendimento em áreas como semicondutores, biodiesel e defesa.
Link: Lula e primeiro-ministro da Índia querem fortalecer comércio, após Trump impor tarifa | O TEMPO News
4. Oportunidades de Negócios e Investimentos
Agronegócio em alta
A Índia, maior consumidor global de leguminosas, deve importar 4 milhões de toneladas de soja em 2024. Nesse contexto, a parceria comercial Brasil Índia tem potencial de alavancar US$ 4 bilhões extras ao produtor rural brasileiro, segundo projeções da Embrapa.
Tecnologia e inovação
Com um ecossistema de 100 unicórnios, a Índia é o terceiro maior hub de startups do mundo. A Telessaúde, inteligência artificial para agro e fintechs são áreas prioritárias para joint ventures. Já a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) estuda linha de crédito de R$ 1,2 bilhão para financiar P&D binacional.
Energia renovável
Índia e Brasil respondem por 14% da produção global de biocombustíveis. A cooperação tecnológica em etanol de segunda geração pode reduzir custos de produção em 18% até 2027, de acordo com o BNDES.
- Identificar nichos de mercado com alto déficit de oferta na Índia.
- Mapear regulamentações específicas, como licenças da Food Safety and Standards Authority of India (FSSAI).
- Adequar embalagens e rotulagens às línguas hindi e tâmil.
- Firmar parcerias com distribuidores locais para diminuir barreiras culturais.
- Usar incentivos de exportação do Programa Drawback Integrado.
- Participar de feiras setoriais, como a “Vibrant Gujarat Global Summit”.
- Monitorar cotações cambiais para travar hedge no câmbio real-rupia.
5. Desafios Logísticos e Regulatórios
Infraestrutura portuária e rotas marítimas
A viagem Santos–Nhava Sheva (porto de Mumbai) leva em média 28 dias e custa US$ 1.700 por contêiner. Porém, a joint venture PSA BDP planeja abrir um hub em Durban, reduzindo o tempo total em cinco dias. O governo brasileiro também negocia integração entre a Ferrovia Norte-Sul e o Porto de Pecém para agilizar cargas ao Índico.
Barreiras sanitárias e fitossanitárias
A Índia exige certificado Halal para produtos cárneos e limite de traços de glifosato em soja (20 ppm). A busca pelo reconhecimento mútuo de laboratórios pode economizar sete dias de inspeção a cada remessa, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
Marco regulatório digital
Empresas de TI enfrentam regras de armazenamento de dados na Índia (Data Protection Bill, 2023). A alternativa é hospedar dados em datacenters locais, mantendo compliance com as leis de ambos os países.
- Diferenciais tarifários internos
- Processos de “single window clearance”
- Riscos cambiais e exigências de capital
- Contratos de transferência de tecnologia
- Questões de propriedade intelectual
6. Impactos para Empresas Brasileiras
Pequenas e médias (PMEs)
Para PMEs de alimentos e bebidas, o e-commerce indiano, liderado por Flipkart e Reliance JioMart, abre portas sem necessidade de estoque local. O modelo cross-border é autorizado para produtos com valor até 50 mil rupias, facilitando testes de mercado.
Grandes corporações
Gigantes como Petrobras e Vale avaliam projetos de refino e mineração em joint venture com ONGC e NMDC. Vale lembrar que o investimento estrangeiro direto (IED) indiano no Brasil já soma US$ 6,2 bilhões, principalmente em TI e automotivo.
Dicas práticas de internacionalização
Due diligence cultural, contratos bilíngues e proteção cambial são itens básicos. Organizações como Sebrae, ApexBrasil e bancos de fomento oferecem programas de capacitação em exportação para o mercado indiano.
1. Classificar NCM correto.
2. Verificar cotas e licenças indianas.
3. Contratar seguro marítimo door-to-door.
4. Traduzir rótulos ao inglês e hindi.
5. Registrar marca no Indian Trademark Registry.
7. Cenários Futuros para o Comércio Sul-Sul
BRICS e novos acordos
Com a expansão do BRICS (entrada de Arábia Saudita e Indonésia cogitada), espera-se a criação de um sistema de pagamento próprio, reduzindo a dependência do dólar. Esse mecanismo pode baratear transações em 1,5%.
Diversificação de mercados
A tendência é que empresas brasileiras explorem regiões indianas menos saturadas, como Uttar Pradesh e Telangana, que oferecem incentivos fiscais de até 120% de crédito de imposto sobre bens e serviços (GST).
Tendências pós-pandemia
A digitalização de cadeias de suprimentos, o nearshoring asiático e a economia de baixo carbono alinham-se ao objetivo Brasil-Índia de dobrar o comércio bilateral para US$ 30 bilhões até 2028.
FAQ – Perguntas Frequentes
1. Qual é o volume atual da parceria comercial Brasil Índia?
Em 2022, atingiu US$ 15 bilhões, com meta de chegar a US$ 30 bilhões até 2028.
2. Quais produtos brasileiros têm maior demanda na Índia?
Soja, óleo bruto, minério de ferro, açúcar e etanol.
3. As tarifas dos EUA afetam diretamente essas trocas?
Indiretamente, sim. Ao fechar seu mercado, os EUA forçam Brasil e Índia a diversificar destinos e ampliar comércio entre si.
4. Como pequenas empresas podem exportar sem distribuidor local?
Usar plataformas de e-commerce transfronteiriço e serviços logísticos integrados, como DHL Express e FedEx Cross-Border.
5. Há acordos de dupla tributação entre os países?
Não. O tema está em negociação e pode avançar durante a Cúpula do G20.
6. O etanol brasileiro terá preferência tarifária?
Espera-se redução de 20% na tarifa de importação, condicionada a contrapartidas tecnológicas.
7. O que muda com o possível acordo Mercosul-Índia?
Tarifas de até 35% poderão cair para 10% ou serem zeradas, beneficiando 450 itens.
8. Onde buscar apoio governamental?
ApexBrasil, Sebrae, Embaixada do Brasil em Nova Délhi e Ministério do Comércio Exterior indiano (DGFT).
Conclusão
O diálogo entre Lula e Modi reflete uma mudança estrutural na geopolítica econômica: o eixo de crescimento passa a orbitar o Sul Global. As tarifas de Trump funcionaram como catalisador, mas a parceria comercial Brasil Índia já demonstra valor autônomo, alavancada por cadeias produtivas complementares, demandas energéticas e inovação tecnológica.
- Agronegócio: Índia precisa de grãos; Brasil de tecnologia agrícola.
- Energias limpas: etanol e biodiesel no centro da transição.
- TI e farmacêuticos: know-how indiano atrai capital brasileiro.
- Logística: novos hubs africanos encurtam rotas.
- Desafios: barreiras sanitárias, infraestrutura e câmbio.
- Oportunidades: mercado consumidor de 1,4 bilhão de pessoas.
Empresas que se prepararem agora, entenderem as nuances regulatórias e construírem parcerias locais estarão na linha de frente dessa revolução comercial. Se você quer acompanhar os próximos passos e atualizações, inscreva-se no canal O TEMPO e ative as notificações. A jornada Brasil-Índia está apenas começando — e pode ser a alavanca de crescimento que seu negócio esperava.
Créditos: Conteúdo inspirado no vídeo “Lula e primeiro-ministro da Índia querem fortalecer comércio, após Trump impor tarifa” do canal O TEMPO.